Atualizado em 20/04/2023

A neonatologia é uma das subespecialidades da pediatria de maior importância e, por esse motivo, vem ganhando cada vez mais peso nas provas de Residência Médica e Revalida. Embora abarque somente os primeiro 28 dias de vida dos bebês, ela requer bastante atenção, já que é composta por uma complexidade de cuidados, patologias e intervenções que precisam ser realizadas com perfeição. Um exemplo dessa complexidade é o “minuto de ouro”, que são as manobras que devem ser realizadas nos primeiros 60 segundos de vida de um neonato que precisa ser reanimado. Por esses motivos, vale ressaltar alguns temas de neonatologia mais incidentes nas provas.  

Vamos lá?

Reanimação neonatal

A reanimação neonatal é essencial para garantir a vitalidade dos recém-nascidos e reduzir sequelas neurológicas advindas da asfixia perinatal. As diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria foram atualizadas em 2022 e devem ser revisadas pelo candidato antes da prova.

Vale pontuar, porém, que o Recém-Nascido (RN) com 34 semanas ou mais, com FC acima de 100 bpm e respiração regular/chorando, com bom tônus, independentemente do aspecto do líquido amniótico, apresenta boa vitalidade e deverá ser colocado em contato pele-a-pele com a mãe, enquanto aguarda o clampeamento oportuno do cordão umbilical (pelo menos 1 minuto). Já no caso dos RN com menos de 34 semanas, os mesmos deverão ser conduzidos à mesa de reanimação após o clampeamento do cordão (de 30 a 60 segundos, caso nasçam com boa vitalidade).

Observação:  

O uso de CPAP deve ser considerado em RNPT com menos de 34 semanas, com respiração espontânea, e FC acima de 100 bpm, mas com desconforto respiratório e/ou SatO₂ abaixo da esperada na transição normal, logo após o nascimento.

Líquido amniótico

‍Atenção total para esse procedimento: não há mais recomendação de aspiração sob visualização direta. Caso nasça deprimido, deverá levar o recém-nascido ao berço de reanimação para aspirar as vias aéreas superiores e realizar ventilação com pressão positiva, de modo a garantir o “minuto de ouro” do RN. Intubação traqueal pode ser desafiadora na sala de parto, mesmo para neonatologistas experientes e cada atraso de 30 segundos para iniciar a VPP, aumenta em 16% o risco de sequelas neurológicas.  

Leia também: Diagnóstico laboratorial do líquido amniótico

‍Icterícia e incompatibilidade ABO e RH

A icterícia é uma manifestação frequente no período neonatal, sendo na maioria dos casos fisiológica. Ela ocorre às custas de bilirrubina indireta. É importante ressaltar que a icterícia fisiológica surge após as primeiras 24 horas de vida e a realização de fototerapia dependerá dos níveis séricos de bilirrubina associados a fatores de risco do RN. No entanto, icterícias que surgem nas primeiras 24 horas sugerem icterícia patológica (hemolítica).

A incompatibilidade ABO é a causa mais frequente de icterícia hemolítica e ocorre quando a mãe do grupo sanguíneo “O” tem um RN dos grupos “A” ou “B”, visto que indivíduos do tipo sanguíneo “O” possuem anticorpos anti-A e anti-B que são passados pela placenta ao feto, levando a hemólise e liberação de bilirrubina indireta à circulação sanguínea. Geralmente, respondem bem com a combinação de fototerapia de alta intensidade (luz no espectro azul) e eventualmente imunoglobulina endovenosa, quando mais acentuadas.  

A incompatibilidade Rh acontece em mães Rh negativo e filhos Rh positivo. Essas mães ao se sensibilizarem ao antígeno D (gestação prévia com filho RH + sem profilaxia adequada, transfusão de sangue inadequada etc.), anticorpos anti-D que levarão à destruição das hemácias no recém-nascido Rh positivo, podendo levar à eritroblastose fetal ou doença hemolítica do recém-nascido.  

Geralmente, se a mãe não teve exposição prévia ao antígeno D, o primeiro filho nascerá sem problemas, mas, em uma próxima gestação, os anticorpos concentrados no sangue da mãe, atravessam a placenta resultando na aglutinação das hemácias do feto. O risco da incompatibilidade Rh pode ser reduzido através da administração da imunoglobulina anti-D (Rhogam) em gestantes Rh negativas não sensibilizadas na 28ª semana de gestação e logo após o nascimento de um filho Rh positivo.

Assim como as demais causas de hiperbilirrubinemia indireta, o tratamento deve ser feito por fototerapia de alta intensidade e raramente de exsanguineotransfusão.

‍Sífilis Congênita

Pode ser dividida didaticamente em sífilis congênita precoce (primeiros 2 anos de vida) ou tardia (após 2 anos de vida). Caso a mãe tenha diagnóstico durante a gestação, deverá ser realizado teste não treponêmico no sangue periférico (VDRL), sendo que a testagem materna simultânea auxilia na determinação diagnóstica. Para responder qualquer pergunta de prova, deve-se saber se a mãe foi adequadamente tratada:

  • Registro completo do tratamento para o estágio clínico com penicilina benzatina;
  • Iniciado até 30 dias antes do parto;
  • Com queda de título (até 2x) antes do parto;
  • Independente do tratamento da parceria sexual.  

Tratamento da Sífilis Congênita

Definindo isso, deve-se seguir o fluxograma a seguir para tratamento materno adequado:

E, para tratamento materno não adequado:

Tuberculose

‍Recém-nascidos coabitantes de casos de TB pulmonar ou laríngea podem ser infectados pelo Mycobacterium tuberculosis (MTB) e desenvolver formas graves da doença. Por isto, nestes casos, é recomendada a prevenção da infecção pelo MTB, também denominada quimioprofilaxia primaria. O RN coabitante de casos de TB pulmonar ou laríngea não deverá ser vacinado com a BCG ao nascimento e deverá iniciar a quimioprofilaxia primária conforme fluxograma abaixo:

Sepse Neonatal

As provas adoram questionar os conhecimentos sobre a etiologia da sepse neonatal. Então vamos relembrar!

A sepse neonatal precoce é aquela que ocorre nas primeiras 72 horas de vida e está relacionada à flora materna. Os agentes responsáveis são:

  • Streptococcus agalactiae (do grupo B) — agente mais temível;
  • Escherichia coli;
  • Listeria monocytogenes.

A sepse neonatal tardia ocorre a partir de 72 horas de vida e se deve à flora hospitalar. Os patógenos mais envolvidos são:

  • Staphylococcus epidermidis (coagulase negativo);
  • Staphylococcus aureus;
  • Bacilos Gram negativos.

‍Triagem neonatal, o que é?

É um conjunto de exames que devem ser feitos gratuitamente, por lei, após o nascimento, que visam detectar doenças e/ou alterações precocemente nos bebês a fim de começar um tratamento o mais rápido possível e evitar problemas futuros. Atualmente, os exames da triagem neonatal obrigatórios e gratuitos são:

  • Teste "do pezinho" básico;
  • Teste do reflexo vermelho;
  • Triagem auditiva;
  • Teste "do coraçãozinho";
  • Teste "da linguinha".

Aproveite para ler também: Teste "do Pezinho"

Atualização do teste "do coraçãozinho"

O teste "do coraçãozinho" foi atualizado em 2022 pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pode ser tema quente das provas. Por isso, vale relembrar o fluxograma abaixo:

Por Dr. Cadu Carlomagno

O Dr. Cadu é formado pela Universidade de Monterrey, no México. Revalidou seu diploma pela Universidade Federal de Minas Gerais, Residência Médica em pediatria e neonatologia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É mestre em Ciências da Saúde.

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Leia mais artigos de Pediatria:

Residência Médica em Pediatria: por que fazer essa especialidade?

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M.F.B. et al. Reanimação do recém-nascido ≥34 semanas em sala de parto: diretrizes 2022 da Sociedade Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2022. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/sbp/2022/maio/20/DiretrizesSBP-Reanimacao-RNigualMaior34semanas-MAIO2022.pdf. Acesso em: 20 abr. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_recomendacoes_controle_tuberculose_brasil_2_ed.pdf. Acesso em: 20 abr. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Brasília, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/pcdts/2022/ist/pcdt-ist-2022_isbn-1.pdf/view. Acesso em: 20 abr. 2023.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Sistematização do atendimento ao recém-nascido com suspeita ou diagnóstico de cardiopatia congênita. [S. l.: s. n.], 2022. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sistematizacao-do-atendimento-ao-recem-nascido-com-suspeita-ou-diagnostico-de-cardiopatia-congenita/. Acesso em: 20 abr. 2023.

Shutterstock - Dmitry Kalinovsky. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/neonatal-resuscitation-doctors-team-doing-intensive-613125116

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20/4/23
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