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uso da cannabis medicinal, embora seja histórico e reconhecido como abordagem terapêutica eficiente para o tratamento de diferentes doenças em muitos países (Canadá, Uruguai, Espanha, Holanda e alguns estados norte-americanos), ainda tem seus entraves no Brasil. Contudo, os avanços demonstrados por estudos e por resultados em pacientes em uso do composto têm colaborado para reduzir esses obstáculos.

Por aqui, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem proposto regulações que têm contribuído com o uso medicinal da substância. Mais recentemente, a Câmara dos Deputados também analisou e aprovou o Projeto de Lei 399/15, que prevê o cultivo, no Brasil, exclusivamente para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais da cannabis sativa.

Atualmente, a legislação permite que produtos sejam importados por pacientes diretamente para uso, desde que esses tenham prescrição médica, ou ainda que empresas importem substratos e produzam em território brasileiro, já que a planta não pode ser cultivada no país.

Aos poucos, a Anvisa também vem trabalhando para aprovar a comercialização de um número maior de produtos à base de cannabis em território nacional, o que deve baratear o acesso a esse tipo de terapia.

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Cannabis medicinal e o sistema endocanabinoide

Para compreender os benefícios do uso medicinal da cannabis sativa é necessário, antes de qualquer coisa, estar ciente de que a recomendação do uso da substância como terapia para diferentes doenças se deu a partir da conclusão de que o organismo humano possui um mecanismo natural chamado de sistema endocanabinoide.

Presente em todo o corpo, esse sistema composto por inúmeras enzimas atua de maneira diferente em cada parte dele a fim de manter o organismo em equilíbrio, a chamada homeostase. Outra de suas funções é favorecer as propriedades terapêuticas da cannabis em situações em que o organismo precisa enfrentar doenças.

Isso ocorre porque esses receptores e enzimas existentes no sistema endocanabinoide trabalham como se fossem sinalizadores entre as células e os processos do próprio corpo, segundo as descobertas do químico Raphael Mochoulan, reconhecido pelo isolamento, definição estrutural e síntese do tetrahidrocanabinol (THC), e de outros estudiosos.

Os principais receptores são o CB1, mais presente no sistema nervoso, pulmão, músculos e outros órgãos vitais, e o CB2, encontrado no sistema imunológico e também nos órgãos como fígado, rins, ovários, pâncreas e outros. Sendo assim, uma vez que o canabidiol (CBD) é administrado, ele interage como o sistema endocabinoide, principalmente por ligação com o receptor CB2, oferecendo efeitos benéficos ao organismo. Entre os benefícios alcançados por meio do equilíbrio do sistema endocanabinoide estão:

  • Melhora do apetite
  • Alívio da dor
  • Redução da inflamação
  • Termorregulação
  • Regulação da pressão intraocular
  • Melhora do controle muscular
  • Melhora da qualidade do sono
  • Melhor resposta ao estresse
  • Maior ativação da memória e do humor

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USP é instituição líder em publicação de artigos sobre canabidiol (CBD) no mundo

O trabalho realizado por quatro professores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP) colocou a universidade em primeiro lugar na lista de instituições que mais publicaram sobre canabidiol e os nomes deles mesmos entre os de dez pesquisadores que mais estudaram o assunto no mundo.

O resultado foi publicado na revista Current Pharmaceutical Biotechnology e foi obtido a partir da análise bibliométrica de 1167 artigos cientificamente relevantes publicados entre 1940 e 2019, o que deu origem ao estudo Global Trends in Cannabis and Cannabidiol Research from 1940 to 2019.

Além de terem sido pioneiros em avaliar efeitos ansiolíticos e antipsicóticos do CBD em animais, em um primeiro momento e, na sequência, em humanos, ainda em 2012, atualmente, os pesquisadores atuam para comprovar ações anti-inflamatória, antioxidante e neuroprotetora da substância.

Os quatro pesquisadores brasileiros também fazem parte de uma rede acadêmica chamada CannaLatam, em que 60 profissionais, de oito países, investigam os efeitos terapêuticos dos canabinoides em pacientes com doenças neurodegenerativas e psiquiátricas.


CBD: promessa para o tratamento de doenças neurodegenerativas

A lista de doenças que podem ser controladas a partir do uso de terapias com cannabis medicinal é grande e inclui desde ansiedade e depressão até esclerose lateral amiotrófica, segundo pesquisadores.

Contudo, estudiosos têm se mostrado animados em descobrir de que modo o canabidiol (CBD) poderia agir no organismo diante das doenças neurodegenerativas como Alzheimer e doença de Parkinson. 

Em comum, as doenças neurodegenerativas têm o fato de que há ocorrência de morte celular em razão de extensos danos oxidativos. Sendo assim, pesquisadores trabalham para descobrir de que maneira o CBD poderia interagir com o sistema endocanabinoide – e com outros independentes dele – de modo a agir como antioxidante, prevenindo ou impedindo o avanço de tais doenças.

Segundo artigo publicado por pesquisadores da Itália e da Polônia, os antioxidantes são vistos como terapias convincentes contra neurodegeneração grave, pois têm capacidade de impedir a interação do estresse oxidativo com os íons metálicos que desempenham papel importante na placa neural, que dá origem a elementos do sistema nervoso central.

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Postado em
28/3/22
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