tuar em áreas de conflito armado oferecendo amparo aos grupos em situação de risco pode parecer um grande propósito, mas exige preparo psicológico e envolvimento que vai além dos conhecimentos teóricos e práticos da Medicina, caso você tenha optado por ser médico de ajuda humanitária.
Um exemplo disso pode ser visto, nos dias de hoje, por quem acompanha o conflito instalado entre Rússia e Ucrânia. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em cerca de um mês desde que a invasão russa teve início, os serviços de saúde da Ucrânia foram alvos de mais de 70 ataques separados.
São hospitais, ambulâncias e profissionais da saúde diariamente atingidos de modo estratégico a fim de impedir o tratamento da população. De acordo com o ministro da Saúde ucraniano, Viktor Liashko, dez hospitais foram completamente destruídos, assim como medicamentos e suprimentos hospitalares.
A atuação dos médicos na Ucrânia
Em publicação recente, a frente europeia da Organização Mundial da Saúde revelou ao mundo como tem sido a atuação humanitária dos médicos que permanecem na Ucrânia.
Adaptação tornou-se a palavra de ordem. Entre os profissionais, há vários perfis:
- Aqueles que deixaram o atendimento em clínicas particulares para atuar nos poucos hospitais ainda em funcionamento;
- Quem esteja oferecendo serviços a pessoas em locais gravemente afetados pelos ataques de maneira remota;
- Outros que estão passando grande parte do tempo nos hospitais, sem voltar para casa.
Além dos cuidados aos feridos, doentes crônicos, pessoas em emergências, como jovens com ataques cardíacos motivados por estresse, os profissionais precisam amparar uns aos outros para que possam continuar bem para prestar atendimento.
Como é o processo de recrutamento do médico humanitário?
Organizações como a Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras são as mais reconhecidas e respeitadas internacionalmente quando se fala em ajuda humanitária.
Em ambas as instituições, o candidato deverá passar por processos semelhantes de seleção, que incluem cadastro, envio de carta de motivação, triagem, etapa de entrevista e de atividades práticas. A página da ONG Médico Sem Fronteiras traz detalhes do processo:
- Cadastro do currículo e envio da carta de motivação – O currículo deverá ser cadastrado somente em inglês ou francês e a carta de motivação em português.
- Pré-entrevista – A etapa ocorre por telefone e somente com os que tenham sido selecionados na etapa anterior. Parte da conversa se dá em outro idioma.
- Atividade presencial – Fase destinada aqueles que passarem pela pré-entrevista. Trata-se da última etapa do processo seletivo, em que o candidato passará por reuniões, testes presenciais, teste vivencial e teste de língua estrangeira. Se aprovado, o candidato entra em um período de espera pela missão, que poderá ser aceita ou não.
6 perguntas que te ajudarão a saber se medicina humanitária é mesmo para você
O trabalho com medicina humanitária exige, antes de tudo, autoconhecimento. Antes de decidir seguir esse caminho, ainda que seja por um tempo determinado, o profissional precisa questionar a si mesmo sobre:
- Quais foram os motivos que o levaram a pensar nisso?
- A escolha pela medicina foi motivada por ganhos financeiros/status ou desejo de ajudar o outro?
- Estar em uma zona de desastre é algo com que é possível lidar diariamente?
- Você está pronto para ter que fazer sempre mais com recursos cada vez mais escassos?
- Você consegue encarar que alguns problemas sistemáticos de países carentes muito possivelmente não serão resolvidos enquanto você estiver em campo?
- Você está pronto para enfrentar diferenças culturais que talvez dificultem tratamentos com os quais você estava habituado a lidar?
Leia também: Plantões médicos: fontes de cansaço, mas fonte de renda
Como se desenvolver para atuar como médico de ajuda humanitária?
Inicialmente, é preciso reforçar que profissionais que optarem por esse caminho inevitavelmente atuarão com a escassez de recursos (insumos, diagnósticos, instalações etc) como parceira indesejável. Sendo assim, desenvolver habilidades para oferecer cuidados necessários mesmo quando o cenário não é o ideal, é fundamental.
Antes de se candidatar a uma missão, por exemplo, pode ser interessante atuar em comunidades carentes no Brasil e ter conhecimento sobre o funcionamento do SUS (Sistema Único de Saúde). Para aqueles que atuaram exclusivamente em entidades privadas (hospitais universitários ligados a entidades particulares ou mesmo hospitais privados), as UBS (Unidade Básica de Saúde) podem ser uma boa oportunidade para colocar em prática os conhecimentos mesmo tendo poucos recursos.
Leia também: Raciocínio clínico: entenda como desenvolver essa habilidade
O trabalho como médico humanitário é voluntário?
Embora receba o nome de trabalho voluntário, a função exercida será remunerada. Uma vez que aceite a proposta de missão, o médico de ajuda humanitária passará, em média, 9 meses no local para o qual foi designado, recebendo salário, alimentação, transporte, moradia, vacinas e vistos necessários durante a missão. Segundo o portal Glassdoor, que reúne informações sobre o tratamento de companhias de todo o mundo com seus colaboradores, além de médias salariais, a remuneração anual de um profissional que atua na ONG Médico Sem Fronteiras, por exemplo, pode variar de R$ 179,2 mil a R$ 192,6 mil.
Gostou desse conteúdo? Continue a navegação pelo nosso blog para saber mais sobre a carreira em medicina.