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Organização Mundial da Saúde admite que a obesidade é e continuará sendo nos próximos anos, um dos problemas de saúde pública mais complexos a serem enfrentados. A estimativa do órgão é de que, em 2025, 2,3 bilhões de pessoas estejam com sobrepeso, sendo 700 milhões obesos.

Para o efeito de obesidade, é considerado obeso o indivíduo que tem Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30 kg/m². O IMC, por sua vez, é um dos critérios analisados para o encaminhamento do indivíduo à realização de cirurgia bariátrica, quando for acima de 35 ou 40 kg/m², conforme o caso.

Muitas vezes, o procedimento cirúrgico acaba sendo a alternativa que resta para o tratamento do problema. No entanto, existem condições específicas para que a cirurgia seja indicada aos pacientes. Portanto, continue a leitura para saber quando e para quem ela é indicada!

O que é cirurgia bariátrica e para quem é indicada?

A cirurgia bariátrica, que também é chamada de Gastroplastia, cirurgia da obesidade ou, ainda, cirurgia de redução do estomago é uma plástica no estômago, realizada com o objetivo de reduzir o peso de pessoas com o IMC muito elevado.

De acordo com o Centro Especializado em Obesidade e Diabetes da Fundação Oswaldo Cruz, a intervenção é capaz de modificar significativamente o tamanho do estômago e modificar o trajeto dos alimentos, o que provoca o aumento da saciedade e a redução da absorção de calorias. Desse modo, o paciente passa a observar uma perda de peso dentro de um tempo que, anteriormente, seria impensável de alcançar.

Vale destacar, ainda, que os avanços na cirurgia permitem que, quando tudo ocorre como o esperado, o paciente retome as atividades cotidianas, como o trabalho – a depender da função – em cerca de 15 dias. Isso porque os riscos de ocorrências como infecções, hérnias, hematomas ou dificuldade de cicatrização ficam em torno, atualmente, de 1%, contra 25% alguns anos atrás.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica esta cirurgia para dois tipos de pacientes: primeiramente para aqueles com IMC acima de 35 Kg/m² que possuam doenças como apneia, hipertensão arterial, problemas articulares, diabetes, entre outras. O segundo perfil é para pacientes com IMC acima de 40 Kg/m².

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) reforça que a indicação cirúrgica também deve ser baseada na análise dos seguintes critérios:

  • Idade: abaixo dos 16 anos a indicação cirúrgica é restrita a situações em que o paciente tenha sido avaliado por equipe multidisciplinar e a decisão seja unânime.
  • Doenças associadas (comorbidades): devem estar controladas para a faixa de risco que o paciente apresenta.
  • Tempo que o paciente apresenta obesidade: muitos pacientes apresentam obesidade ao longo de anos, mas é importante que eles tenham mantido o IMC estável por pelo menos 2 anos antes da cirurgia e, além disso, tenham passado por outras abordagens terapêuticas e falhado nelas.

Conheça os tipos de cirurgia bariátrica

Existem 3 tipos básicos de cirurgia para a popular cirurgia de estômago:

  • Restritivas: diminuem o tamanho do estômago;
  • Disabsortivas: diminuem a absorção dos alimentos pelo desvio do trânsito intestinal;
  • Mistas: diminuem tanto o tamanho do estômago quanto a absorção dos alimentos.

Além disso, a cirurgia pode ser realizada através de um corte de 30 centímetros (aberta) ou por meio de um pequeno orifício no abdômen (laparoscopia), o que interfere no tempo de cicatrização.

Segundo a SBCBM, hoje no Brasil são realizadas 5 técnicas cirúrgicas para o tratamento da obesidade, com autorização do Conselho Federal de Medicina: o by-pass gástrico, a gastrectomia vertical, duodenal switch, banda gástrica e a cirurgia de scopinaro - sendo que as duas últimas já estão em desuso, por causa da evolução das demais técnicas e dos resultados constatados.

Veja, então, o que é feito nos 3 procedimentos mais comuns:

Bypass gástrico

O Bypass Gástrico ou gastroplastia com desvio intestinal em “Y de Roux” é uma cirurgia mista que consiste na divisão do estômago em duas partes, na qual a maior fica isolada e há religação do intestino em um desvio em formato parecido com a letra Y, daí a origem do nome. O procedimento é feito para que a comida seja recebida pela menor parte do estômago, que reduz o espaço para o alimento e diminui a fome.

Gastrectomia vertical

A Gastrectomia Vertical, também conhecida como cirurgia de Sleeve ou gastrectomia em manga de camisa, é um procedimento restritivo. A técnica é executada de modo que dois terços do estômago sejam removidos do organismo, o que inclui a responsável pela produção de grelina, hormônio do apetite. Assim, a redução de peso se dá tanto pela inapetência quanto pela redução do órgão.

Duodenal Switch

O Duodenal Switch é a associação entre gastrectomia vertical e desvio intestinal, sendo, portanto, misto. Esta cirurgia retira dois terços do estômago - o que torna a técnica irreversível -, mas mantém a anatomia básica do órgão e sua fisiologia de esvaziamento, além de promover um desvio extenso no intestino.

Benefícios da cirurgia bariátrica

O excesso de peso pode trazer diversas complicações para a saúde, como problemas cardiorrespiratórios e diabetes. Portanto, além da perda de peso, o paciente pode ser beneficiado no tratamento de algumas doenças e, também, melhora em outras.

É possível perceber, em grande parte dos pacientes, a remissão de diabetes, da pressão arterial, dos lipídeos sanguíneos, dos níveis de ácido úrico e, ainda, alívio nas dores articulares.

No campo de pesquisas mais recentes, um estudo publicado pelo Journal of American Medical Association (JAMA) revela que a cirurgia bariátrica e os resultados metabólicos alcançados por meio dela são capazes de reduzir o risco de pacientes com obesidade desenvolverem doenças hepáticas graves e eventos cardiovasculares adversos de maior gravidade.

A pesquisa envolveu mais de 1.158 pacientes, dos quais 650 foram submetidos à cirurgia bariátrica e 508 permaneceram no grupo de controle não cirúrgico e os resultados foram publicados em outubro de 2021.

Qual o profissional responsável por esse procedimento?

O médico responsável por realizar a cirurgia bariátrica é o Cirurgião Gastroenterologista. Por conta dos riscos e da importância da cirurgia, o MEC (Ministério da Educação) chegou a aprovar a Residência específica para esta cirurgia.

No entanto, para o sucesso do procedimento, é necessário que o paciente tenha o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.

Leia também: Residência em Cirurgia Bariátrica já é uma realidade.

Preparo para a cirurgia bariátrica e suporte emocional

O paciente que será submetido à cirurgia bariátrica precisará, antes da etapa da realização da cirurgia, passar por uma série de exames de avaliação de condição de saúde. Nesse momento, é importante que o profissional que o acompanha esclareça se existem situações que podem impedi-lo de passar pelo procedimento.

Além disso, é preciso tornar claro para o paciente que é inviável iniciar uma jornada de tratamento para obesidade por meio cirúrgico sem o devido cuidado emocional. Por isso, a avaliação psicológica e acompanhamento são etapas obrigatórias do processo.

O acompanhamento psicológico favorece a compreensão do paciente sobre os gatilhos que o levam a comer e ajudam a tratar os problemas emocionais por trás deles, como depressão, ansiedade, compulsão alimentar e recompensa alimentar. Assim, é possível ressignificar o que a alimentação representa para o paciente e promover uma real mudança de hábito - fundamental para o sucesso do tratamento.

É essencial, ainda, que o paciente receba todos os esclarecimentos com relação ao pós-operatório, que incluem:

  • Adaptação da nova condição do estômago e introdução de uma dieta inicial líquida restrita;
  • Cuidados com a área do local da cirurgia para a boa cicatrização;
  • Ir às consultas com nutricionista para introdução de vitaminas, caso preciso;
  • Esclarecimentos sobre desobediência das orientações e ocorrência da síndrome de dumping;
  • Manutenção das consultas médicas para acompanhamento pós-cirúrgico.

Quais são os cuidados pós-cirurgia

Embora a recuperação não seja tão complicada, a adaptação à nova dieta é uma fase bastante delicada e deve ter atenção redobrada pelo paciente. Durante a primeira semana, ele só poderá consumir líquidos. A ingestão deverá ser realizada de gole em gole em um copo de 50 ml, a cada 3 minutos durante 20 minutos, conforme a aceitação do estômago.

Na segunda semana, será adicionado à dieta um suplemento proteico, para recuperar as perdas do nutriente, e um caldo salgado, que deverá ganhar consistência a cada semana. Essa rotina alimentar deve permanecer até o retorno com a equipe multidisciplinar responsável pelo acompanhamento.

Além disso, os pacientes devem ter acompanhamento nutricional por todo o período pós-cirurgia, já que a cirurgia pode fazer com que o organismo tenha dificuldades na absorção de minerais, como o ferro, e vitaminas.

Qual o cenário dos pacientes que necessitam de cirurgia bariátrica na pandemia?

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), os profissionais da área estão assistindo a uma intensificação da obesidade em pacientes que têm indicação cirúrgica no cenário da pandemia.

Antes da recomendação de distanciamento social, que afetou também os serviços de saúde, os pacientes costumavam chegar aos consultórios com IMC de até 35 kg/m². Contudo, depois da retomada das atividades, os índices de IMC em quem busca atendimento, seja em consultórios ou ambulatórios, têm atingido 40 kg/m², afirma a SBCBM.

Para quem precisa passar pela cirurgia bariátrica pelo SUS, o cenário tem sido preocupante. Ainda de acordo com a SBCBM, a queda de procedimentos pelo Sistema Único de Saúde foi de 81,7% em 2021, sendo que, em alguns estados, a realização de cirurgias foi completamente paralisada. 

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15/6/22
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