A leptospirose é uma doença endêmica, mas, com as enchentes na Região Sul do Brasil, ela voltou a ser comentada. A doença é muito comum em situações de inundação devido à contaminação da água pela urina de animais infectados e à exposição direta a essa água contaminada. Além de ser um assunto quente, é um prato cheio para as provas deste ano. Então bora saber mais!

Leptospirose

A leptospirose é uma doença infecciosa causada por bactérias do tipo espiroqueta e do gênero Leptospira. É uma zoonose, ou seja, é transmitida de animais para humanos. A transmissão geralmente ocorre por meio de contato com água ou solo contaminado pela urina de animais infectados, especialmente roedores. O rato é o principal transmissor, pois elimina a espiroqueta na urina. A principal característica dos casos é a sazonalidade, ocorrendo no período de chuvas. Por isso tem sido tão comentada este ano após as enchentes no Rio Grande do Sul.

Apresentam risco maior aquelas pessoas que têm mais contato com água com perigo de contaminação, como as vítimas das enchentes e algumas profissões de risco, por exemplo, lixeiros, veterinários e trabalhadores da rede de esgoto. Atenção para a possível pegadinha em provas: só o contato com a bactéria NÃO é garantia de infecção, é necessária a presença de escoriações na pele para que possa haver introdução das leptospiras. Pode haver penetração em mucosas, como no caso do contato com ar ou da ingestão de água contaminada. Penetração na pele íntegra pode acontecer se houver exposição por longos períodos.

A leptospirose pode variar de formas leves a graves, com uma ampla gama de manifestações clínicas. O período de incubação pode durar dois dias, mas tem uma média de 10 dias e o máximo de 30 dias. Há duas fases:

Fase inicial — fase septicêmica, leptospirêmica ou prodrômica:

  • Febre alta
  • Calafrios
  • Dor retro-orbitária intensa — cuidado para não confundir com dengue
  • Mialgia — especialmente em panturrilhas e região lombar
  • Vômitos
  • Diarreia
  • Conjuntivite não purulenta
  • Rash cutâneo e sufusões hemorrágicas

Fase imune ou tardia — a partir do oitavo dia de infecção:

  • Icterícia rubínica
  • Dor abdominal
  • Hepatomegalia
  • Esplenomegalia
  • Insuficiência renal
  • Sinais de irritação meníngea

Em casos graves, pode ocorrer a síndrome de Weil, caracterizada por insuficiência hepática, insuficiência renal e hemorragias.

Fonte: Nota Técnica nº 3/2024-CGZV/DEDT/SVSA/MS, 2024.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito com base em história clínica, exposição a fatores de risco, sinais e sintomas, além de exames laboratoriais, que podem incluir:

  • Reação em cadeia da polimerase (PCR) para detectar DNA bacteriano;
  • Sorologia — teste de microaglutinação (MAT) —, a partir do sétimo dia do início dos sintomas;
  • Culturas bacterianas;
  • Pesquisa direta por campo escuro.

Tratamento

O tratamento depende da gravidade da infecção:

  • Casos leves:
  • Doxiciclina ou amoxicilina.
  • Casos graves:
  • Hospitalização;
  • Antibióticos intravenosos — como benzilpenicilina, ceftriaxona ou ampicilina;
  • Suporte intensivo — diálise para insuficiência renal e suporte ventilatório para insuficiência respiratória.

Em 2024, a Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul emitiu a Nota Técnica nº 01/2024 LACEN/CEVS/SES-RS para os casos de desastre climático, considerando caso suspeito: "Indivíduo que apresenta febre e mialgia, especialmente na região lombar e panturrilha, e que teve contato com água ou lama da inundação no período de até 30 dias anteriores ao início dos sintomas". Nesses casos, não é preciso aguardar exames laboratoriais, deve-se iniciar o tratamento.

Prevenção

A prevenção da leptospirose envolve medidas para reduzir o risco de exposição à bactéria:

Profilaxia farmacológica

Em situações de alto risco, pode-se considerar o uso profilático de doxiciclina: equipes de socorristas de resgate e voluntários com exposição prolongada à água de enchente, em que os EPIs não são capazes de prevenir a exposição; e pessoas expostas à água de enchente por período prolongado, com avaliação médica criteriosa do risco dessa exposição.

Não esquecer que, além do manejo terapêutico, é importante que os casos sejam notificados.

Bons estudos!

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Referências:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de Doenças Transmissíveis. Coordenação-Geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial. Nota Técnica nº 3/2024-CGZV/DEDT/SVSA/MS. Reforça estratégias para a suspeição de casos e apresenta recomendações de conduta clínica e terapêutica para a leptospirose, especialmente durante o período de chuvas e em ocasião do aumento de dengue e outras arbovirores no país. [Brasília]: 12 mar. 2024. Disponível em: https://j.pucsp.br/sites/default/files/nota-tecnica-no-3-2024-cgzv-dedt-svsa-ms.pdf. Acesso em: 27 jun. 2024.

PRADITKHORN SOMBOONSA. Walk barefoot in flood, be careful of leptospirosis, it can be infected by contact with water or mud with germs. By germs, it goes into the skin through the wound. [20--?]. 1 fotografia. Shutterstock. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/walk-barefoot-flood-be-careful-leptospirosis-718105678. Acesso em: 27 jun. 2024.

RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Saúde. Centro Estadual de Vigilância em Saúde. Laboratório Central do Estado. Nota Técnica nº 01/2024 LACEN/CEVS/SES-RS. Assunto: Recomendações para coleta, acondicionamento e transporte de amostras para diagnóstico de Leptospirose (no contexto das enchentes, inundações, desastres). Porto Alegre, 6 jun. 2024. Disponível em: https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202406/07090451-nota-tecnica-leptospirose-29.pdf. Acesso em: 27 jun. 2024.

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27/6/24
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