uem nunca atendeu uma criança que estava com um quadro de febre, sem outras queixas específicas e, logo depois, os pais se queixam do aparecimento de bolinhas ao redor da boca? E depois nas mãos e nos pés? E até nas nádegas! Pois é, parece que pós pandemia do COVID, estamos vivendo uma “epidemia” da síndrome mão-pé-boca.
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Quem é o causador da doença mão-pé-boca?
A síndrome mão-pé-boca é uma doença causada pelo vírus Coxsackie, cujos sorotipos mais comumente presentes são o A 16 e o EV 71. Acomete frequentemente crianças menores de 5 anos de idade, mas pode causar doença em qualquer faixa etária, inclusive adultos. Costumava ser uma doença mais frequente no verão, porém neste retorno do contato entre crianças nas creches e escolas pós-pandemia esta doença teve frequência praticamente constante no último ano, com diversos períodos de surtos.
Como a doença mão-pé-boca é transmitida?
É uma doença altamente contagiosa. A transmissão do vírus pode ocorrer de pessoa para pessoa, tanto de forma direta quanto indireta. Pessoas infectadas podem disseminar o vírus através das fezes ou de secreções respiratórias, mesmo antes do início dos sintomas, persistindo a excreção fecal por semanas após a infecção inicial e a respiratória de 1 a 3 semanas.
Quais são os sintomas desta doença?
Inicialmente, pode aparecer somente febre, mas também pode haver outros sintomas tais como diarreia, dor ao engolir, dor abdominal e febre, que surgem aproximadamente de 3 a 6 dias após o contato com o vírus. Com a progressão da doença, observa-se o aparecimento de lesões na boca (enantema oral) e erupções cutâneas em forma de vesículas (Figura 1) ou manchas (rash vesicular ou maculopapular). Na região bucal, as lesões se assemelham a aftas, como as observadas na estomatite herpética, enquanto nas mãos e nos pés surgem vesículas alongadas, semelhantes a "grãos de arroz". Outras partes do corpo também podem ser afetadas, como face, cotovelos, tornozelos, glúteos e região genital, mas a síndrome é chamada de mão-pé-boca devido ao seu principal envolvimento nas palmas das mãos, plantas dos pés e boca.
Figura 1.1 - Vesículas com halo eritematoso em joelho.
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2019.
Atenção! Sei que, olhando esta foto, você pode lembrar das lesões/vesículas da varicela, mas lembre-se que na varicela, além das lesões estarem mais localizadas no tronco e não nas extremidades, há também o polimorfismo de lesões: mácula, pápula, vesícula e crosta.
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Como é feito o diagnóstico da doença mão-pé-boca?
O diagnóstico é clínico, sem necessidade de exames laboratoriais que, se solicitados, terão alterações inespecíficas. O diagnóstico pode ser confirmado por isolamento viral e identificação do vírus em cultura de células, por métodos sorológicos, por detecção de RNA viral ou por reação de cadeia de polimerase (PCR), embora esta confirmação não seja necessária em grande parte dos casos.
É necessário afastar a criança da escola?
Sim, por ser uma doença altamente contagiosa a criança deve permanecer afastada até a melhora das lesões, o que geralmente ocorrem em sete a 10 dias após o início do quadro.
Existe algum tratamento específico?
No geral, os quadros têm evolução benigna e autolimitada. É recomendado o uso de sintomáticos, se necessário. Há indicações divergentes quanto à possibilidade do uso de imunoglobulina endovenosa em casos específicos, como em imunodeprimidos ou na evolução para meningoencefalite.
Podem ocorrer complicações?
A complicação mais frequente seria a desidratação, pois devido às lesões na boca, a criança pode chegar à recusa total de líquidos, mas, no geral, a síndrome mão-pé-boca é considerada uma condição benigna. Em alguns casos pode ocorrer uma progressão para complicações graves. Essas complicações são precedidas por alterações no sistema nervoso central, seguidas de disfunção do sistema nervoso autônomo, e eventualmente resultam em falência cardiopulmonar.
A criança fica com alguma sequela?
Não seria bem uma sequela, mas é importante saber e orientar os pais de que de três a oito semanas após o quadro agudo, pode ocorrer queda das unhas de mãos e pés, o que chamamos de onicomadese. Não há necessidade de nenhum tratamento, as unhas cairão e crescerão novamente em cerca de 2 meses.
Figura 1.2 - Onicomadese.
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria, 2019.
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O que responder aos pais quando ouvimos: meu filho pode pegar essa doença de novo?
As famílias sempre ficam muito apreensivas com esta doença, mas, infelizmente, a resposta para os pais é: “Sim, seu filho pode pegar de novo!”. Lembre-se que esta doença é causada pelo vírus Coxsackie e, embora os sorotipos mais comuns sejam o A 16 e o EV 71, este vírus tem mais de 100 sorotipos!
Como prevenir a doença mão-pé-boca?
Além de afastar a criança do convívio das demais, recomenda-se a adoção de medidas de higiene, especialmente após a troca de fraldas, como forma de reduzir o risco de transmissão da doença. Também é importante cuidado ao desinfetar superfícies, objetos e utensílios utilizados pelas crianças doentes.
Por Sabrina Gois Santos
Graduada na Pontifícia Universidade Católica de Campinas em 2011. Fez Residência Médica em Pediatria do Hospital Municipal Infantil Menino Jesus 2012-2014, com obtenção do título de especialista em pediatria 2014. De 2014 a 2016 cursou a pós-graduação em Homeopatia na Associação Paulista de Homeopatia, com obtenção do título de especialista em homeopatia 2016. Professora Afya/Medcel desde 2018 e editora do @pedpapers criado em 2022. Atuação em consultório próprio com foco em puericultura.
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REFERÊNCIAS
BURNS, Dennis Alexander Rabelo. et al. Tratado de pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria. 4ed. Barueri, SP: Manole, 2022.
Documento Científico Departamento Científico de Dermatologia e Departamento Científico de Infectologia (2019-2021). Síndrome Mão-Pé-Boca. Setembro de 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_22039d-DocCient_-_Sindrome_Mao-Pe-Boca.pdf. Acesso em: 26 mai. 2023.
Shutterstock - Singkham. Disponível em: https://www.shutterstock.com/image-photo/hand-foot-mouth-disease-kid-1120602863