Atualizado em 12/01/2023.
Muitos ditados populares são baseados em crendices e superstições que, em algum momento prévio, se acreditava que eram verdades. Porém, com o passar do tempo, mesmo com a ciência provando o contrário, muitos ditados continuam sendo propagados. Mas nem todos são crendices e, para falar bem a verdade, alguns acabaram se mostrando muito sábios.
Um desses ditados é o “é melhor prevenir do que remediar”. Ele é muito popular em todo o Brasil e usado normalmente em situações cotidianas, não necessariamente ligadas à saúde ou a doenças. Entretanto, a expressão remete a uma vertente da Medicina que emergiu na década de 1980 e ganha cada vez mais notoriedade ao longo dos anos: a Medicina Preventiva.
Vamos conhecer mais sobre essa área tão importante e seus níveis estratégicos?
O que é a Medicina Preventiva?
A Medicina Preventiva é uma área que, como o sábio ditado popular já previa, consiste em prevenir doenças ou lesões antes delas aparecerem e precisarem de cura ou tratamento. Nesse cenário, tão importante quanto diagnosticar e tratar enfermidades, é proporcionar um ambiente familiar e uma sociedade que garantam a manutenção da saúde, contemplando não apenas aspectos fisiológicos, mas também psicológicos e sociais.
O objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente e, também, aumentar a eficácia da estratégia terapêutica e diminuir gastos com medicamentos, o que é possível graças ao avanço científico e tecnológico na área médica.
É importante ressaltar que a Medicina Preventiva se apresenta com um alto leque de abordagens. No setor público, por exemplo, ela é baseada especialmente em dados epidemiológicos e em ações direcionadas para evitar o adoecimento da população e para promover a saúde e bem-estar integrais. Já no setor privado, destacam-se ações para a identificação precoce de doenças, como exames preventivos e até mesmo genéticos, pelos quais já é possível identificar doenças antes delas aparecerem, possibilitando a minimização de possíveis danos à saúde do paciente. Como na Oncologia, em que a identificação da doença pode aumentar as chances de cura antes de atingir novos níveis.
Leia também: Medicina preventiva: qual é o papel do médico?
Os pilares para a prevenção de doenças
De forma resumida, podemos dizer que a Medicina Preventiva se sustenta em três grandes pilares: manutenção do baixo risco, redução do risco e detecção precoce.
Os 4 níveis estratégicos da Medicina Preventiva
A partir da década de 1980, especialmente depois da Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em 1986, em Ottawa, a prevenção da saúde foi revalorizada, rompendo os modelos anteriores que focavam mais na doença do que na saúde.
Nesse sentido, para melhorar a eficácia das abordagens médicas, foram destacados 4 níveis de prevenção, que se caracterizam por diferentes procedimentos e orientações de acordo com o estado de saúde do paciente.
A prevenção primária
O primeiro nível de prevenção tem como objetivo promover ações que removam causas e fatores de risco para um determinado problema de saúde individual ou populacional, antes que ele se torne, de fato, uma condição clínica. Ou seja, ele propõe evitar que a doença ocorra.
Aqui, a promoção e proteção da saúde é o ponto-chave. Destacam-se ações como, por exemplo:
- Imunização;
- Orientação de atividade física para controle da obesidade;
- Uso de protetor solar para evitar o câncer de pele;
- Incentivo e orientação para uma alimentação mais saudável;
- Cessação de tabagismo;
Dentre tantos outros.
Nesse nível, o médico precisa estar atento para investigar as pré-disposições do paciente e correlacioná-las com o seu modo de vida.
A prevenção secundária
O segundo nível de prevenção tem como objetivo identificar problemas de saúde, no indivíduo ou na população, em seu estágio inicial - muitas vezes subclínico. As ações são voltadas para facilitar um diagnóstico definitivo e, consequentemente, melhorar o tratamento e prevenir o avanço da condição e seus efeitos a longo prazo.
Um exemplo desse nível de prevenção é o rastreamento e o diagnóstico precoce. Como quando o paciente busca o sistema de saúde com alguma queixa e o médico faz um processo investigativo e solicita exames para determinar o diagnóstico em tempo hábil de impedir que a condição avance para estágios mais graves.
A prevenção terciária
O terceiro nível de prevenção é baseado em ações que buscam reduzir os prejuízos funcionais decorrentes de um problema agudo ou crônico, incluindo reabilitação, de um indivíduo ou população.
Ou seja, já foi identificado que o paciente possui uma determinada patologia, agora, é preciso focar em uma estratégia terapêutica que o direcione aos cuidados que ele deve adotar para que seu organismo não seja mais comprometido.
Podemos citar, por exemplo, um paciente que está em reabilitação pós-infarto, ou um paciente diabético que precisa prevenir-se das complicações da doença. No caso da diabetes, ele é orientado quanto a utilização dos medicamentos, aos cuidados na alimentação, a realização de determinados exames periódicos e etc.
A prevenção quaternária
Segundo a Organização Mundial dos Médicos de Família (do inglês, WONCA), o quarto nível de prevenção consiste na identificação de pacientes em risco de intervenções excessivas, de forma que seja possível evitar que sejam realizadas novas intervenções médicas inapropriadas, sugerindo alternativas eticamente aceitáveis. Ou seja, evitando o sobretratamento.
Aqui, é fundamental que o médico avalie constantemente como está sendo realizado o tratamento:
- Os resultados estão satisfatórios?
- Há queixa do paciente sobre efeitos adversos?
- A evolução está caminhando como o esperado?
- Há necessidade de um procedimento tão invasivo?
A decisão deve-se basear pela condição que mais protege o paciente, gerando menos danos para a sua saúde. Esse momento costuma ser delicado e pode envolver a família do paciente e outros profissionais.
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Existe o quinto nível de prevenção?
Um outro nível de prevenção que não é muito abordado, mas que é tão importante quanto os anteriores é o nível de prevenção primordial.
Ele consiste em ações a nível governamental, com o objetivo de evitar padrões de doenças ou de agravos em saúde que prejudiquem a população como um todo. Como exemplo, podemos citar legislações que proíbam o tabagismo em espaços públicos, que proíbam o consumo de bebida alcoólica ao dirigir, ou ainda a criação de ciclovias, academias ao ar livre e espaços públicos que incentivem a prática de exercícios físicos.
A psiquiatra e professora da Medcel, Lícia Oliveira, comentou um pouquinho sobre o assunto. Confira:
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REFERÊNCIAS
Atenção primária a Saúde – Histórico e Perspectivas (Fausto & Matta)
CADERNOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA – RASTREAMENTO
Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/rastreamento_caderno_atencao_primaria_n29.pdf
Gastão Wagner fala sobre a medicina preventiva no SUS.
Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/noticias/sistemas-de-saude/gastao-wagner-fala-sobre-a-medicina-preventiva-no-sus/20293/
Saúde e Sociedade - Modelos Conceituais em Saúde.
Disponível em: https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/33307/mod_resource/content/1/Unidade%201/top4_1.html