Atualizado em 28/08/2023
Você já deve ter percebido que, dependendo do edital que você pretende fazer prova, os temas predominantes da Saúde Coletiva podem mudar bastante, não é mesmo? Algumas provas adoram Medicina de Família e Comunidade, ou atributos da Atenção Primária à Saúde; outras preferem epidemiologia aplicada, bioestatística, análise de métodos diagnósticos; já outras quase não perguntam sobre saúde coletiva pura e adoram temas mais "clínicos", com questões de pré-natal, puericultura, saúde do trabalhador, e assim por diante.
Agora, se há algo que costuma ser comum para qualquer edital é que as novidades que surgem durante o ano, normalmente, não costumam ficar de fora. Pense nos anos de 2020 - 2021: qual prova que não abordou o COVID-19? Minha aposta é que, dessa vez, muita prova vai cobrar sobre o CENSO 2022 do Brasil.
O motivo? Ora, são vários. Primeiro, é um evento que não acontecia desde 2010 - caso esse número não pareça tão distante para você, saiba que foi o ano em que o primeiro iPad, da Apple, foi lançado. Segundo, é um evento que envolve bastante dinheiro público. Terceiro, ele se relaciona diretamente com diversas questões pragmáticas em saúde pública e epidemiologia.
Vamos então destrinchar esse tema?
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A transição epidemiológica e demográfica no Brasil
Quando utilizamos a palavra "transição”, em saúde coletiva, estamos nos referindo a uma mudança de algum determinado padrão anteriormente estabelecido em algum tema. Dessa maneira, epidemiologicamente, temos duas transições populacionais em particular que são importantes e correlacionadas, é claro.
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Não são temas difíceis de compreender. No Brasil, a transição demográfica significa que a população está crescendo desaceleradamente e ficando mais velha. Já a transição demográfica significa que estamos, cada vez mais, superando as doenças infectocontagiosas e enfrentando um número maior de doenças crônicas não-transmissíveis e causas externas. Essas transições são, no mundo inteiro, relativamente previsíveis, e acontecem quase sempre da mesma maneira.
A transição demográfica, tema cujo Censo tem o maior objetivo de avaliar, costuma acontecer como neste gráfico abaixo:
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Em um primeiro momento (pré-industrial), temos altas taxas de mortalidade e natalidade, resultando em uma população com tamanho pequeno, mas estável. Nas fases intermediárias, o primeiro indicador a cair é o de mortalidade, principalmente fruto de melhores condições sanitárias, acarretando um crescimento populacional forte e acelerado.
A seguir, o coeficiente de natalidade também cai, como resultado de mudanças sociais - inserção da mulher no mercado de trabalho e alto custo financeiro por filho -, elevando um pouco mais o tamanho populacional, mas de maneira desacelerada. Na fase moderna, há uma estabilização dos indicadores e, na pós-moderna, pode inclusive haver um declínio do tamanho populacional, com taxas de mortalidade maiores que de natalidade.
Em qual fase você acha que o Brasil está? Vamos, então, ao resultado do Censo 2022.
O Censo Brasileiro 2022
O censo é um procedimento cujo objetivo é "contar os habitantes do território nacional e identificar suas características". Com base nisso, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contou 203.062.512 habitantes no Brasil.
Algumas outras informações: essa população contada é bem menor do que as projeções que haviam sido feitas pelo IBGE anteriormente - até então, acreditava-se que havia mais de 210 milhões de habitantes no Brasil. O aumento da população de 2010 até 2022 representa o menor crescimento histórico do Brasil desde o primeiro censo já realizado - representando aproximadamente um crescimento de 0,52% ao ano. Isso significa que, provavelmente, o Brasil está terminando a fase intermediária da transição demográfica e se dirigindo à fase moderna - atenção se as provas cobrarem isso!
Além disso, ainda há várias disparidades regionais. A região Centro-Oeste do Brasil foi a que mais cresceu (1,23% anuais), enquanto a região Nordeste apresentou o menor crescimento (0,24% anuais). Isso também se refletiu nos municípios - ao passo que os 10 municípios mais populosos seguem sendo as capitais brasileiras, Brasília ultrapassou Fortaleza em tamanho populacional, ficando atrás apenas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Por fim, outra particularidade que os resultados do censo mostraram até agora é que o número de domicílios também aumentou, mas em uma proporção maior do que o aumento da população. Isso significa que o número de habitantes médio por domicílio diminuiu – ou seja, as pessoas estão vivendo mais solitárias.
É só isso então? A prova não pode fazer nenhuma pegadinha?
Pois então, professor atento está sempre de olho se as bancas não podem enrolar os alunos com alguma pegadinha de nota de rodapé. Segue aqui embaixo, de brinde, algumas possíveis pegadinhas que alguma prova pode acabar cobrando:
1. Os dispositivos para coleta de dados do Censo foram comprados pelo Ministério da Saúde!
Sim, isso é verdade. Houve uma parceria entre o IBGE e o Ministério da Saúde para que esse último comprasse os dispositivos. Isso ocorreu porque, após o término do censo, os dispositivos serão distribuídos para os agentes comunitários de saúde de diversas unidades básicas de saúde do Brasil, com a finalidade de monitorizar as populações adscritas nos territórios.
2. Barracas improvisadas na rua são considerados domicílios, assim como qualquer casa ou apartamento.
Para fins de contabilidade, se houver uma barraca improvisada na rua e, nela, houver algum morador, isso é considerado um domicílio para o IBGE!
3. O censo não se refere a todo o ano de 2022!
Não caia na pegadinha de acreditar que o censo se refere a todo o ano de 2022! Um ano inteiro é um tempo muito longo, em que podem ocorrer mudanças populacionais importantes (muita gente nascendo ou muita gente morrendo). Portanto, a data de referência do Censo é o dia 31 de julho de 2022.
Por último, mas não menos importante, fique atento! Ainda há muitos dados a serem divulgados pelo IBGE sobre o Censo 2022. Um dos mais importantes será divulgado no dia 06 de setembro: a idade do Brasil. As pirâmides populacionais, resultante desses dados, também são uma informação importante sobre a transição demográfica, de modo que pode acabar sendo foco de uma ou outra prova!
Assista na íntegra a live de atualização:
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Por Lucas Primo de Carvalho Alves
Médico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e psiquiatra pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre. É doutor em psiquiatria pela UFRGS e pelo programa tripartite UFRGS / USP / UNIFESP. Pós-doutor em psiquiatria pela UFRGS. É professor e coordenador do departamento de psiquiatria da UNISINOS, preceptor da residência médica em psiquiatria do HMIPV/UFCSPA, e professor de saúde coletiva da Afya/MEDCEL.
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Referências:
IBGE. Censo 2022. Disponível em: https://censo2022.ibge.gov.br Acesso em: 28 ago. 2023
MEDRONHO, Roberto de Andrade. Epidemiologia. 2a. ed. São Paulo: Atheneu, 2009.
Shutterstock. Arthimedes. https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/large-diverse-group-people-seen-above-465645785